1º Domingo do Advento (Ano B)

16 mayo 2024

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Is 63, 16b-17.19b; 64, 2-7;
Sal 79;
1 Cor 1, 3-9;
Mc 13, 33-37

Senhor, nosso Deus, fazei-nos voltar, mostrai-nos o Vosso rosto e seremos salvos.

COMENTÁRIO BÍBLICO-MISSIONÁRIO

«Na espera da Sua vinda»

No primeiro Domingo do Advento, que dá início a um novo ano litúrgico, gostaria de sublinhar mais uma vez o carácter missionário de cada Missa, e depois deter-me nos dois aspectos mais importantes que a Palavra de Deus nos sugere hoje para a nossa espera da vinda do Senhor.

1. O carácter missionário e “adventício” de cada Missa

Será oportuno retomar o que já dissemos no ano passado, no início da nossa caminhada com a Palavra de Deus:

Cada Missa já tem em si um carácter missionário, porque é o testemunho comunitário activo da fé cristã dos participantes. O vínculo entre a Missa celebrada e a missão da Igreja é claro na saudação final que no latim original soa “Ite, missa est” (de onde deriva o termo Missa, para a celebração eucarística). Como nos ensina o Papa Bento XVI, «[Na saudação “Ite, missa est”,] podemos identificar a relação entre a Missa celebrada e a missão cristã no mundo. Na antiguidade, o termo “missa” significava simplesmente “despedida”; mas, no uso cristão, o mesmo foi ganhando um sentido cada vez mais profundo, tendo o termo “despedir” evoluído para “expedir em missão”. Deste modo, a referida saudação exprime sinteticamente a natureza missionária da Igreja; seria bom ajudar o povo de Deus a aprofundar esta dimensão constitutiva da vida eclesial, tirando inspiração da liturgia. Nesta perspectiva, pode ser útil dispor de textos, devidamente aprovados, para a oração sobre o povo e a bênção final que explicitem tal ligação» (Exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum caritatis, n. 51).

O carácter missionário da Missa emerge ainda mais e atinge o seu auge com a aclamação da assembleia após a consagração do corpo e sangue de Cristo. No anúncio do sacerdote Mysterium fidei (“Mistério da fé”), o povo aclama: Mortem tuam annuntiamus, Domine, et tuam ressurrectionem confitemur, donec vénias “Anunciamos, Senhor, a Vossa morte e proclamamos a Vossa ressurreição, vinde, Senhor Jesus!”

Esta acção litúrgica evidencia a vocação de cada cristão no mundo de hoje para ser arauto / testemunha dos mistérios pascais da paixão, morte e ressurreição de Cristo, até à Sua segunda vinda. Com efeito, antes de Jesus eucarístico, cada participante é chamado a confirmar solenemente a missão que Ele mesmo confiou à Igreja, comunidade de fiéis: «Ide e anunciai», «ide e anunciai o Evangelho», «sereis Minhas testemunhas». Esta missão deve ser cumprida até ao regresso de Cristo, como recordou o Concílio Vaticano II: «A actividade missionária desenrola-se entre o primeiro e o segundo advento do Senhor, em que a Igreja há-de ser reunida dos quatro ventos como uma colheita, no reino de Deus. Mas antes de o Senhor vir, tem de ser pregado o Evangelho a todos os povos» (AG 9). Ou seja, todo o nosso tempo presente é sempre o da missão, donec vénias “até que Ele venha”.

Este contexto litúrgico-missionário geral deve ser vivido particularmente na celebração eucarística dos dias e Domingos do Advento, quando, através das orações e leituras previstas para cada Missa, se destaca o aspecto da espera da vinda do Senhor.

2. «Vigiai [...] vigiai [...] vigiai!»

No pequeno trecho evangélico que acabámos de ouvir, o imperativo “vigiai!” ressoa três vezes, no início, no meio e no fim. Assim, o verbo pontua toda a mensagem que Jesus quer transmitir não só aos Seus discípulos íntimos, mas também a todos os Seus ouvintes, como Ele próprio afirma na conclusão do Seu ensinamento: «O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!» Trata-se, portanto, de um convite insistente e universal de Cristo (dirigido “a todos”) a ter uma atitude sábia na espera do Seu regresso, como a de qualquer servo que espera o regresso certo do seu senhor. Trata-se de uma vigilância não passiva, mas activa, como o próprio Jesus pede, repetindo o verbo “vigiar” («Acautelai-vos» e «não se dê o caso que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir»).

Temos aqui, por isso, a recomendação central que Jesus deixa aos discípulos não só para hoje ou para este tempo de Advento, mas também para toda a sua vida. A exortação de Jesus a vigiar ecoa também noutras passagens dos Evangelhos, nomeadamente em Mateus 24, 42 e 25, 13, no final da parábola das dez virgens, que ouvimos há algumas semanas! Isto dá-nos uma ideia da importância deste ensinamento, que está ligado à recomendação de rezar (cf. Lc 21, 36: «Vigiai, pois, em todo o tempo, orando») e que foi depois transmitido pelos apóstolos às primeiras comunidades cristãs (cf. Ef 6, 18; Col 4, 2; 1 Pd 5, 8). Deste modo, a tríplice exortação de Jesus “vigiai, vigiai, vigiai” está intrinsecamente ligada à de “rezai, rezai, rezai” (tal como a recomendação de Nossa Senhora de Fátima!). A oração é a expressão concreta e característica da vigilância cristã e, por isso, o apelo de hoje à atitude de vigilância dos discípulos de Cristo é também um convite a intensificar e a renovar a sua vida de oração. Este convite adquire um significado particular quando estamos prestes a entrar no novo ano de 2024, dedicado, por vontade do Papa Francisco, precisamente à oração em preparação para o Jubileu de 2025.

3. Vigiar-rezar-testemunhar Cristo

Por fim, é de notar que, no contexto da expectativa cristã do regresso de Cristo, a segunda leitura da Primeira Carta do Apóstolo São Paulo aos Coríntios recorda-nos a importante perspectiva do testemunho da fé sólida em Cristo. Com efeito, aos cristãos de Corinto que esperavam «a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo», o apóstolo elogia-os pelo «testemunho de Cristo» estabelecido tão firmemente que «já não lhes falta nenhum dom da graça». Por outro lado, exprime a esperança e a convicção de que o próprio Cristo os «tornará firmes até ao fim, para que sejam irrepreensíveis» no dia do seu encontro com Ele. Assim, os Coríntios tornaram-se os canais vivos que transmitiam, com a sua vida de fé, o testemunho de Cristo que eles próprios tinham recebido. São testemunhas vivas do Senhor na vigilância, na oração, na vivência da fé. Além disso, é preciso sublinhar que o próprio São Paulo, a propósito da vigilância e da oração, pediu explicitamente aos cristãos uma oração especial pela obra de evangelização que estava a realizar:

Orai em todo o tempo no Espírito, por meio de toda a espécie de orações e de preces, perseverando, para isso, nas vossas vigílias, com preces por todos os santos. Orai também por mim, para que ao abrir a minha boca me seja concedida a palavra, de modo a dar a conhecer com coragem o mistério do evangelho, do qual sou embaixador aprisionado: que, nele, eu possa falar corajosamente, tal como é necessário que eu fale (Ef 6, 18-20).

Nesta perspectiva, também nós, cristãos de hoje, somos chamados não só a vigiar e a rezar neste tempo particular, mas também a dar testemunho, isto é, a transmitir o testemunho de Cristo a todos os que nos rodeiam. Além disso, na nossa vigilância e oração, recordamos também de modo especial os missionários de Cristo hoje, aqueles que, como o Apóstolo São Paulo e São Francisco Xavier, cuja festa celebramos hoje, dedicaram toda a sua vida a anunciar Cristo no mundo inteiro «para dar a conhecer com coragem o mistério do Evangelho». Apoiemo-nos, pois, uns aos outros na fé e no testemunho e formemos juntos a comunhão dos discípulos-missionários de Cristo para continuar a Sua missão evangelizadora no mundo donec veniat “até que Ele venha”. Amen. Maranathà!

 

Citações úteis:

Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Directório Homilético, 86

«Naturalmente a Eucaristia que nos dispomos a celebrar é a preparação mais intensa da comunidade para a vinda do Senhor, pois ela mesma assinala essa vinda. No Prefácio que abre a Oração Eucarística deste Domingo, a comunidade apresenta-se a Deus em “vigilante espera”. Nós que damos graças, já pedimos hoje para poder cantar com todos os anjos: “Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do universo”. Ao aclamar o “Mistério da fé” expressamos o mesmo espírito de vigilante espera. “Cada vez que comemos deste Pão e bebemos deste Vinho, anunciamos a Tua morte, Senhor, até que venhas.» Na Oração Eucarística, os céus abrem-se e Deus desce. Hoje recebemos o Corpo e o Sangue do Filho do Homem que virá sobre as nuvens com grande poder e glória. Com a Sua graça, concedida na Sagrada Comunhão, espera-se que cada um de nós possa exclamar: “levantar-me-ei e erguerei a cabeça, porque a minha libertação está próxima”».

Catecismo da Igreja Católica

672 Cristo afirmou, antes da Sua ascensão, que ainda não era a hora do estabelecimento glorioso do Reino messiânico esperado por Israel, o qual devia trazer a todos os homens, segundo os profetas, a ordem definitiva da justiça, do amor e da paz. O tempo presente é, segundo o Senhor, o tempo do Espírito e do testemunho, mas é também um tempo ainda marcado pela «desolação» e pela provação do mal, que não poupa a Igreja e inaugura os combates dos últimos dias. É um tempo de espera e de vigília.

673 A partir da Ascensão, a vinda de Cristo na glória está iminente mesmo que não nos «pertença saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a Sua autoridade» (Act 1, 7). Este advento escatológico pode realizar-se a qualquer momento, ainda que esteja «retido», ele e a provação final que o há-de preceder.

1130 A Igreja celebra o mistério do seu Senhor «até que Ele venha» e «Deus seja tudo em todos» (1 Cor 11, 26; 15, 28). Desde a era Apostólica, a liturgia é atraída para o seu termo pelo gemido do Espírito na Igreja: «Marana tha!» (1 Cor 16, 22). A liturgia participa, assim, no desejo de Jesus: «Tenho ardentemente desejado comer convosco esta Páscoa […], até que ela se realize plenamente no Reino de Deus» (Lc 22, 15-16). Nos sacramentos de Cristo, a Igreja recebe já as arras da sua herança e já participa na vida eterna, embora «aguardando a ditosa esperança e a manifestação da glória do Nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo» (Tt 2, 13). «O Espírito e a esposa dizem: “Vem!” […] «Vem, Senhor Jesus!» (Ap 22, 17.20).

2730 Positivamente, o combate contra o nosso eu, possessivo e dominador, consiste na vigilância, a sobriedade do coração. Quando Jesus insiste na vigilância, esta refere-se sempre a Ele, à Sua vinda, no último dia e em cada dia: «hoje». O Esposo chega a meio da noite. A luz que não se deve extinguir é a da fé: «Diz-me o coração: “Procura a Sua face”» (Sal 27, 8).